Uma hora e meia de genialidade
Resenha sobre o especial “Inside”, de Bo Burnham, pra Netflix
Chuto que uns 70% a 80% do que eu consumo na Netflix gira em torno de stand ups e especiais de comédia em geral - aqui, obviamente, não estão contabilizados os vários desenhos e filmes pra criança assistidos pela minha filha, pois apesar de estar na mesma conta, ela tem um perfil só pra ela.
Nessa seara, já topei com algumas porcarias e com outras coisas muito boas. Mas nunca vi absolutamente nada parecido com "Inside’", especial escrito, dirigido, filmado, musicado, protagonizado e editado pelo comediante norte-americano Bo Burnham e lançado no dia 30 de maio.
Ao longo de um ano, já durante a pandemia, o cara só não fez chover dentro do único cômodo de sua casa onde gravou SOZINHO todo o especial feito pra Netflix.
Burnham foi um dos primeiros astros do Youtube lá pelo meio da década de 2000. Não sabia disso. Até ontem, nunca tinha ouvido falar do cara. E olha que eu tô sempre garimpando comediantes pra assistir.
Além de comediante, Burnham é um músico de mão cheia. E fez em "Inside" uma espécie de musical, que vai da metalinguagem - seu processo criativo é retratado de forma hilariantemente genial em um dos esquetes - a críticas ácidas que giram muito em torno do comportamento das pessoas online - tanto de quem produz quanto de quem consome conteúdo.
Até porque, com 30 anos de idade, ele próprio é um produto desse meio.
Inteligente, incômodo, claustrofóbico, perturbador, atual, hilário e - sei que já usei esse adjetivo, que costumo evitar, por sinal, mas aí vai de novo - GENIAL.