Sepultura faz história no Circo Voador

NINGUÉM ME PERGUNTOU...
3 min readFeb 13, 2022

Terminou ontem, no dia 12 de fevereiro de 2022, o hiato de dois anos e cinco dias entre o lançamento do "Quadra" e o primeiro show do Sepultura para apresentar as músicas deste que é o maior álbum da banda desde a trinca "Beneath the Remains/Arise/ChaosA.D.". E nós, cariocas, tivemos o privilégio de presenciar esse retorno aos palcos da maior lenda do Heavy Metal nacional.

O que o Sepultura mostrou ontem no Circo Voador foi uma confirmação do que o próprio "Quadra" já havia mostrado dois anos atrás: que a banda ainda tem muita lenha pra queimar, segue afiadíssima e extremamente relevante. E que bom que o mundo poderá ver ao vivo as músicas desse álbum que já nasceu clássico.

Vou repetir a palavra privilégio aqui, pois foi realmente isso que o Sepultura proporcionou ao público do Rio de Janeiro, que viu quatro caras com uma gana absurda e muito tesão por estarem em cima de um palco novamente depois de tanto tempo de isolamento forçado.

E foi justamente com "Isolation", faixa que abre o "Quadra" e única já tocada ao vivo - no show do Rock in Rio de 2019 - que o Sepultura iniciou os trabalhos. A roda que já começou insana ganhou ainda mais combustível com "Territory" na sequência.

Daí, o que veio depois foi um setlist muito focado em trabalhos mais recentes da banda, porém com algumas surpresas pelo meio do caminho. Do "Quadra", tocaram "Last time", "Means to an end", "Capital Enslavement", "Guardians of Earth", "Agony of Defeat" e "The Pentagram". Essa última, instrumental, serviu pro vocalista Derrick Green, que fez o show com o pé quebrado, dar uma descansada e pro Andreas Kisser mostrar que é um dos maiores guitarristas da história do Metal.

Algumas das melhores faixas de discos da fase com Derrick Green também fizeram parte do setlist: "Kairos" (do álbum de mesmo nome), "Choke" (do "Against"), "Convicted in Life" (do "Dante XXI"), além de três do "Machine Messiah": a faixa-título, "Phantom Self" e a grandiosa "Sworn Oath", pra mim uma das melhores músicas do Sepultura em todos os tempos.

As surpresas da noite ficaram por conta de dois "lados B" dos álbuns "Beneath the Remains" e "Arise". Do primeiro, tocaram "Slaves of Pain" e do segundo desenterraram "Infected Voice". Aliás, fugir de obviedades é uma característica admirável desse Sepultura do século 21. E o setlist com o melhor da fase com Derrick Green, em especial as músicas do "Quadra", que ficaram impecáveis ao vivo, nem me fizeram sentir falta de outros clássicos que ficaram de fora, como "Troops of Doom" e "Inner Self".

Em um dos melhores momentos da noite, a galera puxou o coro de "Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu". Andreas Kisser pegou um riff na hora, Eloy Casagrande acompanhou na batida e saiu uma rápida jam session entre banda e público. "Vocês fizeram uma música!", disse Derrick. E o que veio na sequência não poderia ser mais perfeito após o protesto contra o presidente genocida: "Refuse/Resist", que quase destruiu o Circo Voador.

Depois, a porradaria de "Arise" fez se abrir a maior roda da noite, antes de a banda sair de cena. No bis, pra fechar com chave de ouro, "Ratamahatta" e "Roots Bloody Roots".

Não posso terminar esse texto sem falar de outro acontecimento histórico da noite de ontem: o show de abertura da Dorsal Atlântica. Uma das maiores lendas do Metal nacional. Além das músicas de "Pandemia", álbum mais recente, foi um show, como não poderia deixar de ser, com discursos tão inflamados quanto necessários do Carlos Lopes, que vomitou na cara de muitos "metaleiros reaças" a realidade na qual estamos afundados hoje. Vida longa ao Carlos e à Dorsal Atlântica.

Set list com a ordem das músicas do show do Sepultura:

- Isolation
- Territory
- Last time
- Means to an end
- Capital Enslavement
- Kairos
- Sworn Oath
- Choke
- Slaves of Pain
- Guardians of Earth
- The Pentagram
- Machine Messiah
- Phantom Self
- Convicted in life
- Infected Voice
- Agony of defeat
- Refuse/Resist
- Arise
- Ratamahatta
- Roots Bloody Roots

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NINGUÉM ME PERGUNTOU...

POR RAPHAEL CRESPO: PAI | CARIOCA EM BH | JORNALISTA | FLAMENGUISTA | ANTIFASCISTA | LEITOR COMPULSIVO | DO METAL À MPB